Covid faz Brasil perder dois anos em expectativa de vida

A longevidade dos brasileiros está ameaçada pela Covid-19. A tendência de se viver mais, claro, permanece, no entanto, o avanço será atrasado. A péssima gestão do governo Jair Bolsonaro na pandemia fará o Brasil retroceder duas décadas na taxa de expectativa de vida ao nascer, segundo a demógrafa Marcia Castro, professora da Universidade Harvard contou ao jornal Valor Econômico (edição de hoje, 29/03/2021). Serão dois anos de retrocesso, de acordo com suas projeções. Seu artigo científico ainda será publicado. 
No início da pandemia, muitas pessoas, inclusive na área do envelhecimento, abraçaram o negacionismo. Por exemplo, confrontando alertas sobre o uso prolongado de UTIs, afirmando que “sempre foi assim” no SUS, ou alimentando a hipótese absurda de criação do vírus para finalidade política e ainda acusando a imprensa de sensacionalismo. A politização foi contagiosa. 
Ao negar as consequências da doença, desde o início, o governo acentuou as mortes por outras enfermidades, como câncer, ou atrasou diagnósticos pela falta de estratégia necessária para fazer o Sistema Único de Saúde continuar funcionando para as demandas além da Covid, como diabetes, hemodiálise, vacinação infantil. Segundo Márcia Castro, esse quadro determinará mortes precoces nos próximos anos, impedindo o país de reverter o impacto da Covid. 
Antes da pandemia, o Brasil já vinha flertando com esse risco devido ao movimento anti-vacina. Comentei isso na minha intervenção no Fórum da Longevidade, em 2018, quando já tínhamos o retorno de determinadas doenças que haviam sido erradicadas desde o ano 2000, como o sarampo. Além de uma mortalidade maior, as consequências da negligência do governo com a Covid irão resultar também em uma redução da qualidade de vida, ou seja, estaremos mais distantes da meta do envelhecimento saudável. 
Esse quadro, obviamente, ampliará a desigualdade social, pois, como mostram os dados, a longevidade é, cada vez mais, um patrimônio dos mais privilegiados, brancos e moradores de estados mais ricos. Segundo Castro, o pior impacto será nas regiões Norte e Nordeste. Nos próximos anos, o Brasil terá o desafio de reconstruir seu Programa Nacional de Imunização, com campanhas intensas nas mídias e, sobretudo, investimento em busca ativa. 
A gestão da Saúde, tão negligenciada nos últimos anos, determinará nossas possibilidades econômicas. Exatamente o oposto do que o governo fez muita gente acreditar no início de 2020 e, por enquanto, nos custou mais de 300 mil mortos.     

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